domingo, 22 de novembro de 2009

Quando um vício alimenta outro

" EXISTE MUITA DOR NA VIDA, E TALVEZ A ÚNICA QUE SE POSSA EVITAR SEJA A DOR QUE VEM DE SE TENTAR EVITAR A DOR."
R. D. LAING

NA PIOR DAS HIPÓTESES, nós, mulheres que amamos demais, somos viciadas em relacionamento, "viciadas num homem", acostumadas à dor, ao medo e ao desejo. Como se isso não fosse ruim o suficiente, os homens podem não ser a única coisa a que estamos presas. Para bloquear os sentimentos mais profundos, provenientes da infância, algumas de nós também somos dependentes de substâncias viciosas. Na juventude ou mais tarde, na fase adulta, podemos começar a abusar de álcool, de outras drogas, ou, mais típico de mulheres que amam demais, de comida. Comemos em excesso ou deixamos de comer, ou ambos, para nos desligarmos da realidade, para distanciar-nos, e anoitecermos no grande vazio emocional dentro de nós. Não são todas as mulheres que amam demais que também comem, bebem ou usam drogas em excesso, mas, para aquelas que fazem isso, a recuperação do vício de relacionamentos ruins deve andar lado a lado com a recuperação do vício de qualquer substância utilizada com abuso.

A razão é a seguinte: quanto mais dependentes do álcool, drogas ou comidas, mais culpa, vergonha, medo e auto-ódio sentimos cada vez mais sozinhas e isoladas, acabamos nos tornando desesperadas pela confiança que um relacionamento com um homem para fazer com que nos sintamos melhor. Por não conseguirmos nos amar, precisamos dele para nos convencer de que somos dignas de amor. Até dizemos a nós que, com o homem certo, não precisamos de tanta comida, ou tanto álcool ou tanta droga. Usamos o relacionamento da mesma forma que usamos a substância viciante: para afastar nossa dor.

Quando um relacionamento nos desaponta, voltamo-nos até mais freneticamente à substância de que abusávamos, mais uma vez procurando alívio. Cria-se um círculo vicioso quando a dependência física de uma substância é aumentada pela tensão de um relacionamento doentio, e a dependência emocional de um relacionamento é intensificada pelos sentimentos caóticos engendrados pelo vício físico. Usamos o fato de não estar com o homem ou estar com o homem errado para explicar e desculpar nosso vício físico. Por outro lado, o uso contínuo de substância viciante permite-nos tolerar o relacionamento doentio, amortecendo nossa dor e roubando-nos a motivação necessária para nos modificarmos. Culpamos um pelo outro.

E tornamo-nos cada vez mais presas a ambos. Enquanto continuarmos tendendo a escapar de nós mesmas e a evitar nossa dor, permaneceremos doentes. Quanto mais nos esforçamos e quanto mais válvulas de escape perseguimos, mais doentes ficamos, combinando vícios e obsessões. No final, descobrimos que as soluções tornaram-se os problemas mais sérios. Precisando loucamente de alívio e não encontrando nenhum, às vezes podemos começar a ficar um pouco loucas.

Robin Norwood, Mulheres que Amam demais.