Desaparecimento de abelhas: Distúrbio do Colapso das Colônias (DCC)
Na primavera de 2007, agências de notícias começaram a fazer reportagens sobre um fenômeno preocupante na população das abelhas. De acordo com as reportagens, os apicultores visitaram suas colméias e descobriram que as abelhas haviam desaparecido. Às vezes, a rainha e algumas abelhas que tinham acabado de sair dos ovos eram as únicas que restavam. Os apicultores não encontraram evidências de predadores que se alimentam de abelhas, como vespas e mamíferos que gostam de mel. Eles também não viram muitas abelhas mortas ou evidências de doenças, como a cria giz ou a cria ensacada, que atacam as larvas em desenvolvimento, ou de nenhuma espécie de ácaro, que ataca abelhas adultas ou em desenvolvimento. Com base nessas informações, pareceu improvável que as abelhas tivessem ficado doentes e morrido.
Por outro lado, muitos apicultores relataram que mariposas, animais e outras abelhas evitaram os ninhos que tinham acabado de ficar vazios, pelo menos por alguns dias. Isso geralmente acontece quando as abelhas morrem por causa de doenças ou de contaminação química.
Muitas dessas notícias eram alarmantes. Elas descreviam que os apicultores estavam perdendo mais da metade de suas abelhas e explicavam a importância das abelhas domésticas na polinização das plantações de alimentos. Alguns artigos indicavam que o desaparecimento das abelhas iria resultar em fome alastrada por várias regiões. Outras citavam Albert Einstein, dizendo que os seres humanos morreriam em quatro anos se as abelhas entrassem em extinção.
O DCC parece afetar em grande escala as atividades comerciais de criação de abelhas. Seus efeitos em colônias de abelhas selvagens são incertos.
É bastante improvável que Einstein tenha feito essa afirmação sobre abelhas, que agora é famosa, mas o Distúrbio do Colapso das Colônias (DCC) é um fenômeno real. Ele tem o potencial de afetar drasticamente a produção de comida e de mel, mas é mais complexo do que algumas notícias o fazem parecer. Primeiro, o DCC afetou abelhas domésticas e comerciais, aquelas que são criadas exclusivamente para produzirem mel e polinizar plantações. Ele parece afetar abelhas de colméias que são movidas de um lugar para o outro com o intuito de polinizar plantações. As abelhas comerciais compõem uma pequena porção da população geral de abelhas. Outros tipos delas, inclusive as abelhas africanizadas, não parecem ser afetadas.
Essa também não foi a primeira vez que a população de abelhas domésticas diminuiu de maneira repentina e inesperada. As populações de colônias individuais podem diminuir bastante durante o inverno, época em que as abelhas morrem naturalmente. Além disso, os apicultores relataram grandes diminuições nas populações de suas colméias várias vezes nos últimos 100 anos. Em 1915, apicultores de vários estados informaram grandes perdas de abelhas. Esse distúrbio ficou conhecido como Doença do Desaparecimento, não porque as abelhas desapareciam, mas porque o distúrbio era temporário e não voltou a ocorrer.
Os pesquisadores nunca determinaram a causa da Doença do Desaparecimento ou das diminuições subseqüentes na população de abelhas. As causas da DCC ainda são incertas e várias possibilidades foram descartadas porque não estão presentes em todas as colônias afetadas. Por exemplo, os apicultores que tiveram as colônias afetadas têm métodos diferentes para alimentar suas abelhas e para controlar os ácaros e outras pestes. As abelhas nas colônias afetadas não parecem ter vindo do mesmo fornecedor. O Grupo de Trabalho do Distúrbio do Colapso das Colônias, que está investigando o fenômeno, também não suspeita que as plantações geneticamente modificadas sejam culpadas.
Existem, no entanto, algumas teorias predominantes sobre as causas do DCC:
- o processo de transportar abelhas por longas distâncias para polinizar plantações pode causar estresse, debilitar o sistema imunológico das abelhas, deixá-las expostas a outros patógenos ou afetar suas habilidades de vôo;
- ácaros que geralmente se alimentam de abelhas, como o varroa e o traqueal, podem estar expondo as abelhas a um vírus desconhecido. Esses ácaros podem ter causado colapsos de colônias no passado, mas também deixaram evidências para os apicultores, o que não é o caso da DCC;
- algum patógeno desconhecido ou outro fator pode estar afetando a habilidade de vôo das abelhas;
- as abelhas domésticas podem ter pouca diversidade genética, fazendo que a espécie inteira seja suscetível a um surto de doença.
Uma teoria conhecida, de que os celulares podem estar causando a DCC, foi completamente descartada. Essa teoria virou notícia em abril de 2007, depois que o jornal britânico "The Independent" apresentou um artigo com uma conexão entre os celulares e o desaparecimento das abelhas. O estudo que o "The Independent" citou não era, no entanto, relacionado com os celulares. Em vez disso, os pesquisadores estavam estudando a energia eletromagnética emitida pelas bases dos telefones sem fio, por meio da implantação delas diretamente nas colméias. Um telefone sem fio usa um comprimento de onda de energia eletromagnética diferente da que o celular usa.
Aproximadamente 15% da comida que os norte-americanos consomem vem diretamente da polinização das abelhas domésticas. Outros 15% vêm de animais que consomem alimentos que as abelhas polinizam. Em outras palavras, quase um terço da comida que os norte-americanos consomem atualmente precisa da polinização. Alguns artigos afirmam que os norte-americanos também irão perder todo o fornecimento de carne sem as abelhas domésticas para polinizar os alimentos. Isso não é necessariamente verdade. Algumas plantas, como o trevo vermelho e a alfafa, são uma grande fonte de alimento para vacas e outros animais de pasto. As abelhas grandes geralmente polinizam os trevos vermelhos e as solitárias abelhas cortadoras-de-folhas costumam polinizar a alfafa. Em outras palavras, a diminuição das abelhas domésticas não significa necessariamente que essas plantas irão perder seus polinizadores.
Não é incomum as abelhas selvagens serem grandes polinizadoras de plantas selvagens e de plantações. Na verdade, até o século XVI não havia abelhas domésticas nas Américas. As abelhas solitárias, selvagens e outros animais faziam toda a polinização necessária para o desenvolvimento das plantas. Os colonizadores espanhóis trouxeram as abelhas domésticas para as Américas com o intuito de aumentar a produção de mel. Embora muitas pessoas achem que as abelhas domésticas são benéficas, elas tecnicamente são uma espécie invasora.
Infelizmente, se as abelhas domésticas entrarem em extinção, seria difícil para as abelhas selvagens assumirem as funções delas na polinização de plantações de alimentos. Existem algumas razões para isso:
- as fazendas de hoje geralmente são de monocultura -- elas usam bastante terra para cultivar um único tipo de plantação. Grandes colônias de abelhas domésticas são boas para polinizar esses tipos de plantações. As abelhas solitárias são melhores para polinizar plantas mais variadas e em áreas menores;
- o uso de pesticidas e a perda do hábitat causou um grande declínio na população e na diversidade de abelhas solitárias e selvagens.
Neste momento, não se sabe exatamente para onde foram as espécies de abelhas domésticas e como essa queda da população irá afetar o fornecimento de comida mundial.
Embora essa diminuição possa não resultar na extinção repentina da raça humana, é provável que tenha, se continuar, um grande efeito sobre o que comemos.
Fonte: http://ciencia.hsw.uol.com.br/abelha8.htm