Nas artimanhas do tempo se esconde uma grande lição.
Como?, perguntarão alguns, procurando descobrir por quê. Se o tempo simplesmente é, passa com regularidade e nada faz senão esperar por nossas atitudes, como ele esconde alguma coisa? Se somos nós que fazemos tudo, se com nossos pensamentos e crenças criamos nosso destino, o que teria ele de especial, a não ser o fato de esperar indiferente que nos tornemos maduros?
A primeira vista parece isso mesmo, mas observando melhor chegamos à conclusão de que ele tem "algo mais". Algo imponderável que o torna coadjuvante essencial do progresso de todas as coisas, participante direto dos eventos, executor indispensável à dinâmica do universo.
Ele equilibra e define o movimento de todas as coisas e dá um ritmo aos ciclos da natureza. Imutável, imponderável, jamais pára ou modifica seu pulsar e tudo no mundo e até o cosmos se percebe através dele.
Já pensaram como ele é formidável? Indestrutível, forte, majestoso, chega a ser a própria sabedoria de Deus. Não se comove com as fraquezas humanas nem com a ignorância letrada ou não que grassa no mundo. Vai naturalmente cumprindo sua função e com ele as transformações se sucedem e gradativamente tudo se modifica e, é claro, para melhor.
Assim, vamos aprendendo à nossa própria custa o quanto dói não fazermos as coisas de maneira adequada. Se nós pudéssemos controlar o tempo a nosso bel-prazer, até que seria muito bom.
E claro que, quando estivéssemos em alguma atividade agra-dáveli poderíamos alterar seu ritmo para que ele parasse ou andasse bem devagar. Já na hora da dificuldade, da dor e da tristeza, era só acelerar para que ele corresse rapidinho e logo tudo terminasse.
Ah! Seria muito bom para nós! Porém como cada pessoa vive diferentes momentos em sua vida, em pouco tempo o descompasso seria tal que a confusão e o caos acabariam criando um mal maior.
É... Por mais que eu procure descobrir novas formas, acabo sempre na confortadora constatação de que tudo está certo como está.
Ainda assim, dá para perceber que o tempo, apesar do ar de superioridade e de indiferença que o torna inatingível e imparcial, guarda em suas profundezas lições especiais.
O que o faz manter essa segurança? O que o faz continuar, aconteça o que acontecer, serena e ininterruptamente? E a certeza de que só existe o bem. Que Deus dirige o universo e só existe de verdadeiro o que ele quer e determina.
E saber que tudo que acontece tem por finalidade sempre o bem. Ele não pára para discutir, para argumentar, para explicar ou tentar convencer. Ele "sabe" que chegará a hora de cada um entender e conduzir seu próprio destino de forma melhor. É essa certeza que lhe dá essa inefável serenidade que nossas lágrimas não conseguem modificar.
Ele simplesmente sabe que tudo precisa de espaço para mani-festar-se. Assim como a cozinheira sabe que para fazer um bolo não é só bater a massa mas também levá-la ao forno e esperar para assar. O médico sabe que depois de dar o medicamento ao doente é preciso esperar para obter efeito.
Essa é uma das artimanhas do tempo que nós não queremos observar. Queremos tudo de nosso jeito, sem dar o devido espaço a cada coisa, da maneira adequada. Não esperamos o bolo assar.
Aí eu pergunto: você tem se dado espaço para amadurecer? Depois de ler um livro interessante, aprender novas ideias, ouvir uma palestra que o tocou e acendeu em você o desejo de mudar, tem sido paciente o bastante, persistente e seguro? Deu espaço, concedeu a si mesmo algum tempo para conseguir seu objetivo, ou simplesmente acreditou que já havia conseguido o que pretendia e depois de algum tempo descobriu, desconsolado e triste, que tudo estava como antes?
É, isso é triste. É triste porque, depois de um fracasso, raros são aqueles que pretendem recomeçar. Quase sempre ensaiam desculpas, consideram impossível e voltam aos antigos hábitos, e, o que é pior, sem novos objetivos.
A acomodação é considerada inércia pela vida, e como tudo se movimenta na natureza, a inércia é sempre um ponto de atra-ção para o movimento. Nada pode parar no universo. Agarrar-se a coisas ou ideias é ilusão que sempre atrai o sofrimento saneador e restaurador da realidade.
Vocês acham que estou sendo rude? Estou sendo verdadeiro. Gostaria de banir da face da Terra todo sofrimento, e incomoda observar que ele só existe porque os homens ainda o valorizam. Que ele só aparece quando se acredita nele ou quando se foge à realidade procurando esconder o medo de viver! E a falta de confiança de que Deus é capaz de equilibrar o universo e manter o sopro da vida, de cuidar bem de você e de seu destino.
Sim, medo de viver é falta de fé, é negação da força divina!
Acham que estou sendo exagerado? Ao contrário, estou sendo ponderado, sincero.
Afinal, depois de vivermos tantas encarnações, tantas vidas na Terra, termos vivenciado tantas experiências, não acham que estamos prontos para saber a verdade?
Confesso que apesar de ter aprendido várias coisas, ainda preciso de tempo para assimilar outras, mas uma coisa eu garanto: não vou desistir. Isso não. Os erros não me deprimem, não mesmo. Se eu não errar, como poderei aprender?
Apesar de a vaidade protestar, eu não ligo e sei que cada erro me aproxima mais da verdade. Cada vez que eu aprendo como eu não deveria ter agido, estou mais perto de saber como teria sido mais adequado fazer. E agir de forma adequada traz maturidade, harmonia, conhecimento, felicidade. Acham que sabendo disso eu não iria tentar?
Afinal, não há ninguém me cobrando, a não ser eu mesmo, nofundo no fundo, tenho um desejo grande de ser valorizado e feliz, Vocês não pensam como eu?
Do livro de Zíbia Gasparetto e Silveira Sampaio: Pare de Sofrer