sexta-feira, 3 de abril de 2009

Quando se ama, as pessoas passam?

O amor consegue descobrir até no desacerto a vontade de acertar

É interessante perceber que na vida existem muitas coisas que têm o poder de nos marcar profundamente. Existem experiências que, pela intensidade com que acontecem em nós, deixam sempre vivas pessoas e fatos em nosso coração. Enxergando dessa forma, gosto de pensar no amor como uma realidade que impede o tempo de ser aquilo que é, ou seja, de passar...

O tempo, companheiro na jornada dos dias, realiza o ofício de amadurecer, fortalecer, separar. Com o passar do tempo, coisas, pessoas, lugares, passam, porém, quando fazemos a experiência de amar percebemos que tudo isso é como que retirado da categoria temporal, pois, por mais que ele [tempo] nos roube as presenças externas, elas sempre continuam vivas dentro de nós.

Existem pessoas e fatos que nos marcam tanto que, por mais que o tempo passe, elas sempre continuam ali sorrindo para nós. As pessoas que amamos têm o poder de se incorporar àquilo que somos e de nos transformar um pouco naquilo que são.

Aquilo – e aqueles – que nosso coração verdadeiramente amou, começam a fazer parte do nosso jeito de ser e de ver a vida, eles acabam realizando uma mudança em nosso ser, dilatando com sua presença o horizonte dos nossos valores e significados.

Contemplo isso quando olho para meu pai (...). Ele está sempre em mim e sua ausência tem o poder de aprofundar ainda mais a sua presença. Seu sorriso sempre me encontra quando me acho só e perdido, como naquelas manhãs de novembro, quando seus olhos me diziam que eu também tinha o direito de errar...

Sua palavra ainda me conforta quando fura o pneu do carro ou do caminhão. Meu coração o amou, e ele foi acrescentado a mim como algo que faz parte de um tesouro que existe no mais íntimo do que sou. Ele começou a compor o acervo daquelas palavras silenciosas que só eu sou capaz de decifrar.

O que foi amado fica, permanece, não entra na dinâmica do tempo, não entra na dinâmica do perecer... O que amamos – no sentido autêntico e não utilitarista da palavra “amor” – nos transforma para sempre, a ponto de podermos concluir que nunca mais seremos os mesmos a partir dessa experiência vivenciada.

Meu pai nunca sairá de mim, ele sempre continuará falando dentro de mim coisas que só eu sou capaz de compreender. Ele compõe o que sou, a ponto de aqueles que o conhecem o perceberem existindo em mim.

Experiências que nunca passam, que nos fazem mais gente e nos permitem entender que o bem fica, mesmo onde houve o erro, pois o amor consegue descobrir até no desacerto uma profunda vontade de acertar.

É triste perceber pessoas que “passam” a vida toda amando coisas que “passam” – carros, bens, cargos, etc. – enquanto seus filhos crescem, seus pais morrem, seus amigos adoecem, enfim, as pessoas mais importantes de suas vidas passam, sem antes terem tido a oportunidade existirem dentro do seu coração.

O coração que entendeu o que é amar sabe hospedar somente o que é essencial...

Por ora quero deter-me por aqui. Quero deixar-te com encanto das presenças que moram em você e com a tarefa daquelas que precisam ainda existir em seu coração.

Deus abençoe!

Autoria de Adriano Zandoná

Enviado pela minha sempre amiga Cyntia "Onça".