sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Felicidade Egoísta

A pessoa que desfruta esse tipo de felicidade busca somente atender às próprias necessidades e vontades, sem considerar o sofrimento alheio. É um bem-estar primitivo, quase vegetal, pois leva em conta apenas a própria sobrevivência. Suga todos os nutrientes do solo, enquanto se espalha para pegar o máximo de luz, mesmo que com isso abafe outras plantas. Um exemplo pode ser o do chefe de família que exige para si o melhor lugar da casa, a melhor comida. Fuma seu cigarro à mesa. Tem sua bebida preferida. Tudo deve ser do seu modo e gosto, independentemente do sufoco dos filhos, da mulher ou de quem quer que seja.

Uma criança muito pequena naturalmente busca esse tipo de felicidade, porque nessa fase de desenvolvimento o egocentrismo é natural. Aos poucos, à medida que vai descobrindo as demais pessoas, ela supera a necessidade de ser o centro do mundo e se interessa mais pelos outros.

Aos 8 meses, o bebê costuma estranhar pessoas que não pertençam ao seu cotidiano e pode até chorar diante delas. Muitas vezes essas pessoas insistem em pegá-lo no colo apenas para a própria felicidade, ignorando a angústia da riança. Quando alguém lhe sorri, o bebê sente bem-estar porque percebe que despertou afeição. Por isso o sorriso lhe serve de reforço. Logo, se os pais desaprovarem alguma ati tude sua, não devem sorrir enquanto dizem um “não” a ele. Entre o “não” e o sorriso, o que pesa mais é a aprovação do sorriso. Mesmo sem sorriso, a aprovação pode estar num meigo tom de voz, num doce olhar...

Uma criança que faz birra porque a mãe se nega a lhe comprar o vigésimo brinquedo numa manhã de passeio ao shopping é outro exemplo de felicidade egoísta.

Sua vontade se transforma na necessidade de possuir o brinquedo, mesmo que precise atropelar a própria mãe.

Só ele sente o efeito prazeroso da droga, sem se preocupar com os prejuízos que ela provoca nem com os sentimentos e as opiniões dos pais e das pessoas que o amam. Vale lembrar que logo essa felicidade egoísta se transforma em saciedade e entra no ciclo instintivo (animal) do sofrimento/saciedade.

Quando os pais "sofrem" de felicidade egoísta, estão educando os filhos, pelo “como somos”, a também ser egoistas. E no futuro serão atingidos pelo que ensinaram. Imaginemos esses pais senis, começando a necessitar de cuidados. Os filhos abrirão mão de sua felicidade egoísta para cuidar deles? É bem provável que os pais terminem num asilo.

Do livro "Quem ama Educa" de Içami Tiba.