sexta-feira, 26 de junho de 2009

OS CABELOS

(Alex Cardoso)

Estavam eu e um amigo papeando na calçada da casa de minha mãe, discutíamos sobre os mais diferentes gostos que tínhamos, quando então apareceu ao longe uma moça, usando uma camiseta branca com um decote em "v" incrível; que no fundo no fundo, formava um "y"com o desenho dos seus seios; calça jeans, cintura baixa, acessórios nas mãos e no pescoço, brinco redondo de cor prateada e uma sandália de alças fininhas destacando os seus pés. Então essa moça começou a se destacar cada vez mais no plano de nossos olhos, aproximou-se e com seu jeito de andar simplesmente parou tudo em nossa volta, nosso globo ocular parecia acompanhá-la como num jogo de tênis, éramos naquele momento impressionados telespectadores de uma beleza que não se sabe de onde veio, nos mumificou. O tempo parecia ter parado, como se fosse uma cena de filme Hollywoodiano onde aquela beldade passa e então o diretor aplica um efeito de câmera lenta, éramos eu e meu amigo, sentados na calçada, imóveis, somente movimentando o pescoço demoradamente e o globo dos nossos olhos.

Então, em poucos segundos, o pequeno espaço ocupado por nossos corpos se viu perfumado por uma fragrância deliciosa, nossos narizes se empinaram como se estivéssemos praticando nado sincronizado, estávamos ali, eu e meu companheiro, afogados num perfume tão bom que nos sentíamos mortos a caminho para o céu, sim, pois dizem que depois que morremos, as cores, sabores e perfumes são muito mais coloridos, saborosos e vibrantes do que naquela calçada onde estavam sentadas duas bundas mortais, embasbacadas!

Nosso pescoço já havia virado 180 graus para a esquerda, totalmente desorientados, não sabíamos se usávamos mais o olfato ou a visão, naquele momento, havíamos perdido o controle da máquina humana, estávamos sendo controlados pelo nosso instinto homem, animal. Mas o cérebro ainda funcionava, e me acordou com a lembrança daquele perfume que ela deixava no ar enquanto ia embora, era de Filtro Solar, demorei para puxar lá do meu arquivo cerebral aquele cheiro tão peculiar, não era para eu achar estranho, pois acabava de passar por mim uma moça linda e branca, por esse motivo aquele perfume agradável deixado no ar como flores balançadas pelo vento.

Lembrança boa me veio à mente, meu tempo de moleque, aquela menina pela qual me apaixonei, branca, cuidadosa, sempre passava o filtro solar antes de sair de casa, medo de envelhecer logo com o calor aumentando a cada ano, mas mesmo com a pele um tanto oleosa, me deixava sempre com vontade de abraçá-la, apesar da gastura que tenho por óleos, aquela paixão me libertava de qualquer repúdio por qualquer coisa que fosse, eu só queria amá-la, mais nada.

Acordei das minhas lembranças, balancei a cabeça, pisquei meus olhos, e percebi que na verdade ainda estava do lado do meu amigo, sentado na calçada da casa da minha mãe, perdendo de vista aquela moça perfumada e bonita que me fez recordar de um tempo que não volta mais, daí então, começamos eu e meu amigo e vislumbrá-la por trás.

Há! Os homens, sempre os mesmos!

Mas engraçado que, enquanto meu amigo olhava fixamente para aquela coisinha redonda camuflada por um jeans, eu ainda fixava meus olhos na parte de cima, mais precisamente na sua cabeça, meu amigo olhou para trás com a intenção de me alertar para aquela circunferência toda quando percebeu que meus olhos estavam perdidos olhando para cima, minha boca aberta, caída, eu estava simplesmente apaixonado pelos seus cabelos. Meu amigo olhava para onde eu olhava, olhava para mim novamente, tentando encaixar o seu ângulo de visão no meu ângulo de visão, foi então que ele percebeu que eu estava olhando para os cabelos da moça perfumada, voltou a olhar para mim novamente e me cutucou, perguntando o que é que eu estava olhando?

Fechei a boca apenas para falar: Cabelo!

Meu amigo não entendia que eu era um homem diferente, enquanto a maioria dos homens prefere olhar a bunda das mulheres, eu preferia olhar os cabelos. Os cabelos das mulheres demonstram o cuidado e o carinho que elas tem, cada um é diferente do outro, o que torna a mulher especial em relação a outra, a bunda não, a bunda na maioria das vezes tem a forma igual, é redonda, coberta por uma saia ou uma calça, ou sei lá o que a moda anda inventando, a bunda é bonita para ser mostrada nua, lisa, com ou sem marca de calcinha, naquele momento de tesão, onde a surpresa vira euforia, a novidade vira vitória, felicidade. O cabelo, tá lá, balançando, perfumando, iluminando, acompanhando o rebolado da moça que passava por nós, não era surpresa nenhuma, não atiçava a curiosidade, o cabelo era lindo, fazia parte da beleza da menina cheirosa, deixava o contorno do seu rosto mais bonito, e seu comprimento era como uma flecha indicando o resto das suas costas, harmonia, paixão.

O cabelo da mulher sempre me fez apaixonar, por isso, na minha vida toda, nunca liguei se a moça era preta, branca, amarela ou parda, seus cabelos me fizeram experimentar coisas incríveis, perfumes dos mais diferentes shampoos, enrolei minhas mãos em cabelos loiros, vermelhos, negros, castanhos, crespos, lisos, encaracolados, etc ... e bundas? Bundas eu parei para olhar, apertar, beijar, morder, estranhar os tamanhos, as formas, os furos, mas não são como os cabelos, os quais não preciso de muito esforço para vê-los ou para acariciá-los, que me envolveram em tantas paixões verdadeiras e que por esse motivo, até hoje, ainda sento na calçada da casa de minha mãe esperando uma moça passar para acompanhar o balanço da beleza de seus cabelos, e minha mãe nunca entendeu por quê eu gostava tanto daquele lugar, e meu amigo continuou não entendendo por que eu gostava de olhar justamente para aquele lugar nas mulheres.

Gosto não se discute!