PORQUE EU AMO PITANGAS?
Antes que achem estranho o por que desse post preciso contar uma história:
Há muitos anos, muitos mesmo, quando eu ainda era criança, lembro-me do meu querido pai nos trazendo de volta da praia num Volkswagen Brasília, hoje já tenho que explicar que Brasília era um Volkswagen, nessa volta da praia, da praia de Piúma, nós subíamos um morro enorme e meu pai sempre parava no mesmo local por um motivo. Foi por esse motivo que eu estou escrevendo hoje. Meu pai parava o carro para que ele e seus filhos pudessem passar um momento único juntos, para chuparmos Pitangas na beira da estrada, não sei como meu pai descobria esses pés de fruta no meio do caminho, certa vez, voltando com ele de Marataízes, ele parou o carro numa descida, no meio de uma curva acentuada e me mostrou o mais doce e roxo maracujá que eu já chupei em toda minha vida, e todas as vezes que eu desço aquele morro e faço aquela curva eu tenho na lembrança eu e meu pai parados no meio da estrada chupando maracujá.
Mas, voltando ao caso da pitanga, fazia muitos anos eu não conseguia encontrar pitanga para chupar, ou lembrar do meu pai, essa era a verdade. Foi então que há uns 04 anos, indo para o trabalho, eu percebi que perto da minha casa havia uma casa beirando a Av. Pinheiro Júnior, e essa casa que pertence ao famoso Renato Tanuri, tinha um pé que ultrapassava o limite da mureta e adentrava a calçada, e certo dia, eu vi que no chão estavam caídas frutas iguais a pintanga, me abaixei, peguei, cheirei, olhei pra cima e vi o pé com poucas unidades da frutinha, com uma só na boca pude comprovar que eram mesmo pitangas, meu Deus, meu pai me veio à mente na mesma hora, fechava os olhos e lembrava do meu pai.
Então tive uma idéia, com 04 frutinhas que consegui pegar, coloquei-as no bolso da camisa e continuei o caminho até o trabalho, quando então cheguei em casa, lavei as frutinhas e lógico, saboreei-as, logo após limpei as sementes e coloquei em uma lata de tinta cheia de terra. Esperei algumas semanas e lá estavam as mudinhas de pitanga, depois de algumas outras semanas, levei a lata para o sítio do meu sogro e plantei-as embaixo de uma mangueira.
Depois de muitos anos, eu percebi que tinha feito uma verdadeira bobagem, como eu plantei as mudas embaixo de uma mangueira, elas não tomavam sol e conseqüentemente não cresciam devidamente, resultado, fiquei frustrado, porque eu não poderia mais tirar as plantas de lá e colocá-las em outro lugar. Achei que jamais iria chupar aquelas pitangas.
Hoje, 05 anos depois, cheguei no quintal e fui ver as árvores que plantei, ainda baixas por causa do pouco sol, mas duas delas, que pegavam um sol nas beiradas, estavam cheias de pitangas, fiquei emocionado, porque logo que vi as frutas, veio meu pai à cabeça, e agradeci muito a Deus enquanto eu as colhia.
Enchi uma sacola pequena e estava saltitante, enquanto chupava algumas frutas, jogava as sementes no chão, num buraco cavado com a ponta do tênis, com intuito de crescerem mais pés. Logo após eu colher uma pequena sacola de pitangas, meu sogro disse, você já foi naquele pé ali fora? Eu perguntei: qual pé? Eu plantei todos ali daquele lado. Ele respondeu: Não, tem um pé ali fora embaixo do catavento que está lotado de pitangas.
Fui conferir para saber se não era acerola, que é muito parecido. E quando encontrei o pé, era o pé de pitanga mais bonito de todos, recheado de frutinhas vermelhas, o chão estava da mesma cor de tanta fruta madura que havia caído. Troquei a sacola e enchi novamente com as frutinhas daquele pé.
Me perguntei, quem será que plantou aquele pé? Se eu plantei todas as mudas do outro lado? E justamente esse pé é o que está mais cheio de frutas! Um mistério que até agora ninguém soube responder.
Mas a verdade de tudo isso, é que a gente colhe mesmo o que planta, meu pai plantou o amor em mim e colheu meu amor em dobro, pois plantei as pitangas por causa dele, para sempre lembrar dele quando eu pudesse pegar uma frutinha daquela e lembrar da volta da praia, eu e meus irmãos na beira da estrada com meus pais chupando pitanga.
Por mais bobo que seja, um momento em nossa vida pode ser uma grande recordação, e para manter viva essa lembrança e esse amor, eu plantei o que meu pai plantou em mim, e hoje eu colho os frutos e vivo momentos felizes ao lado dele toda vez que coloco uma dessas pitangas em minha boca.
Obrigado meu Deus. Obrigado papai.
EU AMO PITANGAS POR QUE EU AMO MEU PAI!
