terça-feira, 11 de maio de 2010

EU E A RITINHA


Tenho 35 anos, para muitos que não compreendem o que é ter DDA, ou Défict de Atenção, vou contar minha experiência.

Eu descobri que tinha DDA muito tarde, depois dos 29 anos, quando entrei na Faculdade de Direito, mas antes vou contar um pouco da minha vida até chegar a conclusão que eu tinha algum problema.

Os pais devem ficar atentos ao comportamento dos filhos, eu tenho impressão de que a separação dos meus pais quando eu tinha mais ou menos 13 anos de idade foi um fator definitivo para aumentar o problema que eu já tinha, um fator piscológico que só piorou outro. Nesse ano eu cursava a 6a. série e fiquei reprovado, meu pai me mudou de colégio e as confusões em casa continuavam e no outro ano, em outra escola, eu tomei bomba na sexta série pela segunda vez, eu me lembro que era um garoto normal, tirava notas boas e era elogiado pelos professores, tanto é que no antigo Pré-II, eu nem cursei pois a pedagoga da escola disse que eu estava muito adiantado para a turma e me passou direto para a primeira série. Ou seja, eu, que estava adiantado um ano fiquei um ano atrasado com as duas reprovações na sexta-série. E não era burro não, sempre fui muito inteligente, bom em matemática, física, escrevi bem a vida toda, etc ... era um problema que foi diagnosticado tarde demais.

O DDA tem um problema sério de concentração, na verdade ele tem um problema sério de concentrar a concentração em apenas uma coisa, principalmente quando ele está sentindo-se mal ou gostando muito de algo. Por exemplo, no Segundo Ano do Ensino Médio, eu dei toda atenção à minha primeira namorada, apaixonado, deixei a escola de lado e só queria namorar, meu foco era ela, meu mundo girava em torno dela, então quando chegou o final do ano eu já estava pendurado na recuperação em 5 matérias, isso era reprovação direto, mas a professora de português me deu uma ajuda e eu fiquei em 04, mas um professor que já morreu, chamado Carlyle, não ia muito com minha cara e me reprovou por causa de 2 décimos! Mas isso não foi determinante, já que eu merecia ter ficado reprovado pela falta de comprometimento com os estudos. Importante salientar que o DDA quando novo e que não sabe que tem um distúrbio não tem idéia de que ele está fazendo, simplesmente age, normalmente o DDA é impulsivo, não pensa para fazer as coisas, quando faz e faz errado, fica se lamentando profundamente depois.

Pois bem, o DDA não é fácil de se lidar, tem que ter muita paciência, saber que às vezes ele age com uma vontade tremenda que nada o faz parar, principalmente nos momentos de irritação, frustração e raiva, é quase incontrolável. Eu fui criado pelo meu pai aprendendo a resolver tudo na porrada, sempre batia nos meninos da escola e da rua, qualquer coisa para mim era motivo de confusão, arrumei muitas brigas, o que para mim até minha adolescência era normal, pois fui ensinado e viver e sobreviver pelo meu pai assim, também cresci dentro de um lar destruído pela separação dos meus pais, envolvido em brigas, xingamentos e pancadarias, algo que para um DDA não contribui em nada, pelo contrário, só piora. Convivi com minha mãe até antes de casar aos gritos, dentro de casa, xingamentos, descontando a frustração pela sua vida nos filhos, para piorar tem problema de surdez e vive com a TV no último volume, tudo isso, contribuiu para o meu problema. O DDA precisa ter a cabeça tranquila, viver num ambiente de paz.

Se um DDA normal tem um comportamento difícil, imaginem um DDA que utiliza drogas ou consome bebida alcóolica? Deve ser um bicho bravo sem domador! O que, graças a Deus, nunca foi meu caso!

Fui descobrir que eu era realmente DDA no terceiro ano da faculdade de Direito, já tinha 31 anos, comecei a perceber dentro de sala e antes das provas a minha dificuldade em prestar atenção nas aulas e lembrar da matéria que eu tinha estudado, na verdade, estudos nunca foi meu forte, talvez até mesmo pela dificuldade que o meu transtorno vem me causando há mais de 30 anos, só que nesse período da faculdade eu comecei a perceber que eu tinha algum problema.

Sempre percebi que quando acabava a aula e as pessoas começavam a discutir a matéria dada pelo professor eu não lembrava de tantos detalhes como eles, no final das provas quando todo mundo começava a discutir as questões, enquanto alguns lembravam de todas eu conseguia lembrar de uma ou duas, ficava desesperado, mas o que mais me intrigava era que durante as aulas eu comecei a perceber que o professor falava sobre um assunto e 10 minutos depois eu já não lembrava de mais nada. Para piorar a Faculdade de Direito foi meio que um caminho sem escolha, porque meu sonho a vida toda sempre foi fazer faculdade de publicidade, então com menos interesse, eu tinha dificuldade de aprender e guardar o que os professores de direito lecionavam em sala.

O DDA é interessante, sua característica é a falta de atenção, mas quando ele é apaixonado por algo, ele foca toda sua atenção naquela paixão, eu tenho fases na minha vida, que comecei a perceber que são fase em que eu entro e depois saio, mas entro de coração mesmo, esquecendo as outras coisas, alguns exemplos:

Eu tenho uma coleção de selos com mais de 3000 peças, todas internacionais, que eu comecei junto com meu pai, e lembro que durante algum tempo eu corri atrás de selos em todos os lugares que eu ia, depois de um certo tempo, parei.

A Segunda Guerra é uma paixão na minha vida, por isso, tenho quase 40 réplicas de aviões, bonecos, livros, dvds, revistas, livros, moedas, tudo que eu posso juntar eu tento, até fui conhecer perto da minha cidade um Paraquedista Inglês que saltou no DIA-D, que em outra ocasião, jamais faria o esforço que fiz para conhecer outra pessoa como ele que não tivesse vivido a mesma situação.

Quando eu ouço uma música e gosto muito dela, só ouço aquela, chega a ser chato!

Esses são alguns exemplos, o DDA também tem seu lado positivo, quando eu trabalhei com Publicidade, como designer, foram os melhores anos da minha vida, porque eu trabalhava com algo que eu amava fazer, então para mim aquilo era uma forma de eu ficar concentrado o dia inteiro. Mas o lado negativo dessa história de DDA é que eu não consigo estudar para os concursos, alguns me chamam de preguiçoso, outros dizem que eu não quero saber de estudar, eu até acredito que seja um pouco de um e um pouco de outro, mas o que ninguém sabe é que dentro da minha cabeça, quando sento para estudar, na cabeça do DDA, vem milhões de pensamentos, o cérebro quando está em "silêncio" é igual a um motor de pensamentos, não deixa você parar para pensar em uma coisa só, eu costumo ilustrar meu problema DDA com um filme famoso do Tom Cruise chamado MINORITY REPORT, onde ele fica assistindo em várias telas numa sala os crimes que vão ocorrer, aquela cena é exatamente igual a minha cabeça de DDA, são várias telas de pensamentos rodando pela minha cabeça e eu não consigo focar só uma (igual à figura acima).

Outro dia eu cheguei em casa com várias coisas para fazer e foi uma cena muito engraçada:

Eu precisava ligar o computador, escovar meus dentes e tirar a roupa, então comecei tirando a roupa, fui para frente do computador, voltei ao banheiro coloquei pasta na escova, comecei a escovar os dentes com metade da roupa tirada segurando minhas calças, voltei para o computador com a escova na boca e a calça arriada até o chão, parei e pensei:Caramba! Uma coisa de cada vez!

O DDA é isso, é elétrico, ansioso, impulsivo, quando é apaixonado é apaixonado de verdade, quando tem raiva sai da frente por que é difícil de segurar!

Foi então que há 04 anos atrás procurei uma amiga psiquiatra e conversei com ela, sobre minhas dificuldades que estava passando na faculdade, até mesmo porque ela era minha colega de sala e me ajudou muito, Maria Regina. Ela compreendeu perfeitamente minhas dificuldades e meus problemas e me receitou a Ritalina.

Na primeira vez que tomei Ritalina, eu tinha uma prova antes, eu fiquei 07 horas direto estudando sem sair da mesa, minha esposa começou a reparar que eu ficava mais tranquilo, que olhava nos olhos dela quando conversávamos, que eu parava para pensar e deixava ela terminar de falar a frase toda sem que eu a interrompesse. Essa é outra característica do DDA, numa conversa, se alguém começa dialogando ele interrompe a pessoa, não olha nos olhos (pois está prestando atenção na pessoa e em outros pensamentos), é ansioso, demonstra nervosismo em ficar parado, etc.

A Ritalina me ajudou muito, e ainda me ajuda, só que parece que meu organismo já não responde tão bem com a quantidade que me foi receitada, talvez pela minha idade, meu peso e até mesmo pelo tempo que fiquei sem me medicar, eu já sinto necessidade de tomar algo mais forte, a Ritalina só pode ser vendida com receita médica, ela tem tarja preta mas foi um engano ter sido taxada dessa forma, somente no Brasil a Ritalina é remédio tarja preta, ela não causa dependência, eu não sinto vontade nenhuma de tomar, tomo por que sei que me ajuda e me controla, além disso a Ritalina tira a fome e a ansiedade, o que por um lado é bom para determinado grupo de pessoas.

Muitos jovens tem tomado Ritalina de forma abusiva, os concurseiros principalmente, mas aviso, quem toma uma alta dosagem pode ter palpitação, tremedeira e a vista começa a ter uns colapsos, eu já tive, pois num concurso tomei 02 comprimidos de Ritalina e comecei a enxergar flashs enquanto fazia a prova, o que não foi nada agradável, a Ritalina também causa insônia e não deve ser tomada depois das 20h pois o efeito dela é de mais ou menos 05 horas, ou seja, para aqueles que gostam de estudar a noite, a melhor opção é tomar a Ritalina no máximo até as 18:30h.

Mas de qualquer forma, jamais deve-se tomar Ritalina sem um acompanhamento médico, pois é um remédio que tem alguns efeitos colaterais, que não pode ser misturado com álcool e muito menos drogas!

Se você é pai e mãe, tem um filho muito ansioso, bagunceiro, que tem dificuldade para fazer as tarefas de casa, de organizar as tarefas, possui certa irritação com algumas situações, ou se você já é adulto e percebe dificuldade em conversar, prestar atenção numa aula, palestra ou qualquer atividade que exija sua atenção, comece a prestar atenção se isso realmente não te incomoda? 

A ajuda o quanto antes e a medicação vão fazer da sua vida algo muito melhor!

Uma alternativa para a Ritalina é o Concerta, um remédio mais forte e com duração maior, só que o preço gira em torno de R$250,00, mas pode ser fornecido por alguns Estados na Rede Pública, é o que eu estou tentando agora.

Espero ter ajudado. DDA não é doente, ele tem uma dificuldade e precisa muito da ajuda de quem está próximo.