quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DDA E VIDA AFETIVA

Tem que ter muita paciência, eu confesso. Tem que amar muito uma pessoa com DDA, eu sei e tenho consciência dos transtornos que às vezes ocasiono com meu jeito "maluquinho"de ser, por amor, por pensar em quem está ao meu lado, por não querer ver alguém que eu amo e que me ama sofrer é que venho controlando esse rapaz gentil, amável e explosivo que sou. O melhor remédio é amar alguém para que você pense nessa pessoa quando tiver que tomar atitudes que saem do seu controle, o amor é o freio do meu DDA. Leiam com atenção o texto abaixo:

os últimos românticos: emoção em excesso e escassez de razão...

Trechos do Capítulo do livro Mentes Inquietas de Ana Beatriz B. Silva

Como dizia o poeta: ”Amar só se aprende amando.” E é exatamente isso que se deve aprender ao amar ou ser amado por alguém com DDA.

É verdade que tal citação vale para qualquer tipo de relação amorosa, no entanto amar uma pessoa com comportamento DDA pode exigir maestria e grande habilidade na arte de amar, uma vez que as relações amorosas, nestes casos,costumam ter a mesma intensidade dos loopings das montanhas-russas americanas. A imagem figurativa é exatamente esta, pois tudo pode acontecer nessas relações num espaço de tempo tão curto que os amantes podem chegar ao ponto de duvidar da realidade dos fatos. Amar um DDA pode significar ter sua vida virada de ponta-cabeça em poucos minutos.

Como foi visto anteriormente, as três principais características do comportamento DDA são a desatenção, hiperatividade e impulsividade. A forma de amar também será influenciada por essa tríade de intensidade variável. Mas uma coisa é certa: em todos os casos sobra emoção e quase sempre falta razão.

Mentes inquietas parecem não possuir nenhum pequeno espaço que seja para abrigar a velha e cansada amiga RAZÃO.

Um DDA com hiperatividade física e impulsividade assemelha-se a um grande ”tornado” apaixonado. É capaz de conhecer alguém, apaixonar-se perdidamente, casar, brigar, odiar, separar, divorciar e tornar a casar-se; tudo em menos de um mês. Exagero? É, talvez estas pessoas sejam os ”últimos românticos do litoral atlântico” (Lulu Santos) ou ainda os exagerados que se jogam a seus pés com mil rosas roubadas (à la Cazuza). Eles tendem a sentir todas as emoções de modo muito mais intenso do que a maioria sequer pode imaginar.

Quando se apaixonam, estão realmente apaixonados, toda sua atenção volta-se para esse sentimento sem que possam controlar tal impulso, ficam literalmente cegos de paixão. Esse estado de cegueira é descrito por Fábio, comerciante de automóveis, 35 anos:

”...como um estado de estresse permanente. Muita gente fica estressada com seus problemas de trabalho, responsabilidades, contas a pagar, essas coisas... mas referem-se ao amor como o porto seguro onde recarregam as baterias. Pra mim sempre foi muito diferente. Eu me estresso com tudo isso que citei e também com meus relacionamentos amorosos! Não consigo controlar o impulso, a necessidade mesmo, de me fundir com a mulher que amo. E se ela não entende isso, e geralmente não entende, o problema é grande. Eu não recarrego as baterias com a mulher que amo... Quando estou com ela, minhas baterias entram em curto e soltam faíscas... Sabe aquela recomendação: não jogue pilhas no fogo? Bom, eu simplesmente não consigo tirá-las de lá.”

Já os DDAs que não possuem tanta hiperatividade física e impulsividade tendem a apaixonar-se à moda antiga, transformam o objeto da paixão em um ser idealizado. São capazes de gastar horas e horas de seus dias pensando no ser amado, em poesias nas quais dirá a ele como e o quanto a vida será perfeita ao seu lado. Amam intensamente, no interior de suas mentes, mas não conseguem colocar em prática todas as coisas que vivem em seus pensamentos.

Muitas vezes seus parceiros nem sequer sabem ou imaginam que são objetos de tão nobres sentimentos. Felizmente, toda essa emoção tende a transformar-se em poesias,obras literárias ou músicas. Clássico exemplo dessa forma de amar, de uma pessoa com comportamento DDA (predominantemente desatentivo), pode ser aferida nos versos imortais de Fernando Pessoa:

Quem tem dois corações
Me faça presente de um
Que eu já fui dono de dois
E já não tenho nenhum
Dá-me beijos, dá-me tantos
Que enleado em teus encantos
Preso nos abraços teus
Eu não sinta a própria vida
Nem minh’alma ave perdida
No azul amor dos teus céus
Botão de rosa menina
Carinhosa, pequenina
Corpinho de tentação
Vem morar na minha vida
Dá em ti terna guarida
Ao meu pobre coração
Quando passo um dia inteiro
Sem ver o meu amorzinho
Cobre-me um frio de janeiro
No junho do meu carinho.
(Fernando Pessoa)

Na realidade, os problemas no relacionamento afetivo de pessoas com DDA começam a aparecer e causar grandes desconfortos após a fase da paixão. É muito fácil apaixonar-se por um DDA, o grande desafio é ultrapassar a explosão inicial e estabelecer uma relação afetiva duradoura de crescimento e respeito mútuo. As características do comportamento DDA que podem trazer maiores dificuldades dentro de um relacionamento íntimo são:

• Esquecimentos, distração e desorganização:

A instabilidade de atenção é o sintoma mais importante e marcante na vida dessas pessoas. É claro que isso traz para eles muitos problemas pessoais e cotidianos, como atrasos freqüentes, perda de papéis importantes, chaves etc.

Quando esses problemas começam a acontecer dentro da relação afetiva, sérios conflitos podem aparecer, pois a desatenção do DDA pode tornar-se muito irritante para seu parceiro. A esposa de um DDA pode ficar muito desapontada ao ver seu marido esquecer datas especiais ou encontros marcados com antecedência, ou mesmo revoltada por não ser ouvida durante um jantar ou sobre decisões de sua vida profissional. É claro que isso gera, a longo prazo, raivas e mágoas que irão contribuir para uma atitude depreciativa do parceiro não-DDA para com este, e uma atitude de retraimento do DDA que tenderá a fugir dessa relação.

Essa situação pode tornar-se um círculo vicioso em que a relação se tornará insuportável para ambos.

• Falta de controle de impulsos:

Os impulsos nos DDAs podem apresentar-se de várias formas: por meio de explosões afetivas, no comer, falar, trabalhar, jogar, fazer sexo, comprar ou usar drogas. Seja qual for a forma em que tais impulsos possam se manifestar, trarão sempre situações de desconfortos pessoais e grandes embaraços conjugais.

Já se imaginou casado com alguém que estoura todos os limites do cheque especial e dos cartões de crédito, ou que trabalha no mínimo 14 horas por dia e, ao chegar em casa, continua a fazer os trabalhos da firma?

Tais atos impulsivos costumam despertar no parceiro uma tendência a interpretá-los como gestos egoístas, narcisistas ou mesmo infantis.

Em grande parte, esses adjetivos estariam corretos se não se soubesse que o DDA age assim em função de uma alteração neurobioquímica que também não está sob seu controle. A ele geralmente cabem a culpa e o arrependimento de ter mais uma vez falhado na tarefa de pensar antes de agir e, como conseqüência, ter criado novos problemas para si e mágoas e raivas para seu parceiro.

• Necessidade de estimulação constante:

A maior parte dos indivíduos com DDA tem fascínio em buscar novos e fortes estímulos. É como se suas vivências cotidianas tivessem que acompanhar o ritmo acelerado e inquieto de seu cérebro, que já foi chamado por John Ratey — um especialista norte-americano em DDA — de cérebro ruidoso.

A busca de estímulos fortes pode dar-se de várias maneiras: praticar esportes radicais, realizar negócios arriscados, criar discussões exaltadas, participar de vários projetos simultaneamente, dirigir em alta velocidade, ter fascínio por motocicletas, sair às três horas da madrugada para comprar um livro ou tomar um café. Vale tudo para fugir do tédio e manter a vida em um ritmo acelerado e excitante.

Como nos relacionamentos afetivos, muita ação pode ser sinônimo de confusão. Várias vezes os cônjuges se sentirão traídos, rejeitados ou mesmo esgotados com tanta emoção.

• Dificuldades de se comunicar afetivamente:

De um modo geral, pessoas com funcionamento DDA têm dificuldades de se expressar. Isso ocorre, em parte, pela velocidade com que seu cérebro processa os pensamentos, em função da sua hiper-reatividade ao mundo externo e interno. Cérebros com DDA atentam-se a diversos estímulos externos ao mesmo tempo que criam histórias no seu mundo interno. Essa enxurrada de pensamentos acaba por criar uma disparidade entre o seu modo de pensar e a sua maneira de se expressar. Sabe-se que a linguagem falada e a escrita são a formas de expressar o que se pensa. Assim sendo, a pessoa com DDA sempre apresentará dificuldades em uma dessas expressões, ou em ambas. No caso da escrita, poderá haver palavras, sílabas ou letras repetidas, omitidas ou mesmo trocadas.

Com relação à linguagem falada, a situação pode tornar-se um pouco mais complicada, pois sabe-se que a comunicação verbal é a base de todo processo de socialização do ser humano. A grande dificuldade do adulto com DDA nos seus relacionamentos afetivos é conseguir falar de maneira organizada aquilo que sente para seu parceiro. Muitas vezes, a velocidade de seus pensamentos o impede de falar o que é fundamental para se fazer compreender. Quando pensa no que vai falar, outro pensamento sucede o anterior em uma velocidade tão expressiva que acaba por esquecer o que de fato importava dizer.

Outro aspecto que torna a comunicação afetiva tão difícil é a baixa auto-estima que quase sempre acaba traindo-o, impedindo que fale o que sente de verdade, sob pena de sentir-se rejeitado e não amado. Talvez seja esse o seu maior temor afetivo.

Esses problemas de comunicação decorrentes da sua já citada baixa autoestima têm início na sua vida infantil. São crianças mal-interpretadas e geralmente rotuladas de forma pejorativa como ”rebeldes”, ”esquisitas”, ”preguiçosas”, ”burras” ou ”más”. A partir daí, as relações afetivas primárias (com familiares e cuidadores) começam a apresentar muitas desavenças, culpas, acusações e agressões. Na vida adulta, todas essas dificuldades irão influenciar a comunicação verbal nas relações afetivas: muitos adultos com DDA tenderão a calar-se com medo de provocar conflitos e/ou tenderão a dizer tudo que lhes vêm à cabeça com uma grande dose de agressividade. De qualquer forma, ambas as maneiras de reagir a um diálogo afetivo terão como conseqüência a não-resolução dos conflitos essenciais da relação.

A esta altura, você deve estar pensando: ”Farei de tudo para não me apaixonar por um DDA.” Ou se você acha que é um deles, deve estar apavorado pensando: "Onde encontrar um parceiro que possa compreender-me e ajudar-me nessa que parece ser uma batalha de titãs, que é fazer alguém com DDA ter uma relação afetiva razoavelmente estável e feliz?” Pois bem, aos primeiros respondemos: não é nada fácil ficar imune aos encantos sedutores dos DDAs. Aos próprios devemos prevenir que a tarefa não é fácil, mas está longe de ser impossível. A dica fundamental é escolher uma pessoa muito especial que goste de gente, com suas virtudes e suas limitações.