Existem situações na vida da gente que acabam influenciando profundamente aquilo que somos. Tal influência, por vezes, pode exercer sobre nós o ofício de aprisionar, estacionando nosso olhar em paisagens que não mais compõem nossos dias.
De fato, o coração – com as razões que o povoam – vive inconstâncias que em determinados momentos o tornam confuso e inquieto, e se ele não for bem nutrido e direcionado pode desenvolver certa facilidade para se acorrentar àquilo que não mais pode ser nem ter.
A raiz de tal confusão, muitas vezes, consiste no orgulho, que o impede de se aceitar pequeno e limitado, querendo assim sempre "voltar para consertar" e explicar aquilo que em sua vida ficou ausente de perfeição.
Seria tão mais fácil reconhecer: "Errei, nessa circunstância eu não fui capaz de acertar...". Assim o coração ficaria livre para compreender com propriedade o profundo significado da misericórdia, que se configura como acolhida sem precedentes daquilo que o ser é, e de maneira singular, de suas fragilidades e incapacidades.
Assim o coração será feliz por ser o que é, sentindo-se acolhido por um Amor infinitamente maior que o seu, que não o acusa nem vive a exigir explicações.
Onde o amor é abundante cessam-se as explicações. Quem explica demais sente-se acolhido de menos... pois no coração que se compreende conhecido e amado as palavras podem ser dispensadas e as explicações dão lugar à certeza de ser amado como se é.
Se o coração deixasse para trás o que fica para trás ele seria mais inteiro, ele caminharia leve e sem peso de acusações. Contudo, para isso é necessário deixar passar sem tentar explicar nem consertar... mas um deixar com a serena consciência de que existe um terno abraço sempre pronto a acolhê-lo em cada esquina de sua história.
As justificativas tornam a vida pesada, pois semeiam desconfiança. Quem se justifica demais diante de seus erros e fraquezas ainda não compreendeu que é amado assim como é. Quem se contempla amado não vive explicando suas limitações, mas, permite-se ser perdoado e acolhido apenas pela força de um simples olhar, mesmo com a ausência de palavras.
Deixar sem buscar justificar e explicar é um concreto sinal de que o coração aprendeu a confiar na força do amor que acolhe sem desprezar. Sem desprezar a essência – que é boa – em virtude dos fragmentos de imperfeição.
Deixar é também uma forma de ser autêntico consigo assumindo que em determinada circunstância não foi possível acertar, mas que é possível aprender com o limite para construir uma posterior vitória.
Diante de um Amor que é sempre “sim” o coração precisa ser educado para abandonar os seus frágeis “nãos” nesse imenso abismo de acolhida e compreensão.
Dessa forma, a vida se tornará mais livre para tentar, sem ter que fingir ou representar para se aceitar como é... Desprender-se; deixar para trás o que fica para trás!
Adriano Zandoná