Vê-se claramente que, segundo o Novo Testamento, nosso perdão aos irmãos e irmãs não pode ser o resultado de algum árduo esforço empreendido na esperança de conquistar o perdão divino ou por medo de perdê-lo. É sempre fruto de ser experimentado o livre e gratuito perdão divino. Somente quem experimenta o perdão pode deveras perdoar; como também somente aquele que experimentou o amor pode deveras amar (George Soares-Prabbu).
Para sentirmos na pele os problemas dos outros não basta termos lido alguma coisa sobre solidariedade, nem mesmo basta sermos pessoas de bom coração. É preciso termos passado por alguma experiência semelhante. Quem alguma vez machucou-se severamente num tomo dificilmente vai divertir-se com as quedas de outras pessoas, sabe quanto aquilo lhe custou e pode avaliar quanto a pessoa pode estar sofrendo. Quem já passou uma noite de insônia entenderá mais facilmente quando alguém chega e conta que teve ou tem dificuldades para dormir. Quem cometeu uma ofensa e sentiu o peso da culpa a tomar conta de seu íntimo, poderá entender melhor quanto de sofrimento vai no coração de seu ofensor, quanto de constrangimento e de orgulho estúpido na tentativa de preservar uma bela auto-imagem até para si próprio. As experiências desagradáveis de nossa vida não são inúteis ou desgraças totais. Têm o condão de nos colocar os pés no chão da realidade, de nos firmar no bom senso, outro nome da humildade.
Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos mutuamente, se alguém tem motivo de queixa contra o outro; como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós (Cl 3, 12-13).